O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.
Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.
Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.
quarta-feira, 23 de março de 2011
terça-feira, 15 de março de 2011
As Voltas que o Mundo dá
"O mundo dá voltas e, às vezes, volta ao mesmo lugar, enquanto alguns nem saem dali. Mas quem volta tem a certeza de que nada será igual. É como acordar todo dia; cada manhã é diferente. Tem gente que sempre volta. Outros estão em volta. Alguns, às voltas. E há quem vai dar uma volta... Eu orbito. Voltar é recomeçar. É fazer de novo, de um jeito diferente. Chegar com a mala em algum lugar conhecido ou não. E ali tocar a sua vida como se fosse a primeira vez. Perdoar as falhas do outro e reconstruir uma união. Acordar todo dia como se acabássemos de nascer. A gente volta o tempo todo. Da escola, do trabalho. Do futebol. Da casa de, pra casa. Ao mesmo lugar, para o velho amor, pra terra... É verdade que tem gente que não volta. Porque não deu, não quis, não teve coragem. Tem gente que sempre volta. Tenta de novo ... E há aqueles que abandonam. Às vezes a volta parece um retrocesso. Outra é só uma passagem. Quem sabe dar um tempo pra chuva passar e ver o sol nascer de novo. O legal é conseguir fazer de cada volta algo especial. Como se abrisse um presente nunca ganho antes. Estar em volta é circundar. É como a criança ao redor do bolo. Ou do ser amado esperando um beijo. Estar em volta é esperar. É rodear, rodear, até "roubar" o desejo. É ter certeza de que um dia consiga, mesmo que não seja realmente do jeito que desejou. Às vezes estamos às voltas com alguma coisa. Com os nossos problemas ou o dos outros. Com muito ou pouco trabalho. Às voltas com tarefas domésticas. Com pensamentos estrategistas para acertar o e no alvo... A volta faz parte da nossa vida. Tem fases de voltas; outras de estarmos às voltas ou em volta. Também tem dias que precisamos apenas dar uma volta. Deixar o tempo passar. Esquecer. Espairecer. Ou permitir que a nossa volta conceda a outro um respiro. Uma volta no quarteirão para emagrecer. Uma volta de maratona. Dar uma volta para procurar o que fazer. Dar uma volta para, quem sabe, voltar ... Tem gente que sempre volta. Outros preferem dar um volta. Passamos meses às voltas. Ou um dia em volta. Mas tem gente que nunca se permite o prazer da volta. Eu orbito, entre uma volta e outra.... Pra onde se vai é difícil saber. Mas pra voltar ... O que vale é tentar. Por isso, eu orbito. Mas tem gente que nunca volta....”
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